segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Então é Natal...






" Foram com grande pressa e acharam Maria e José e o menino deitado numa manjedoura" ( Lc 2,46).


"Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco" (Is 7,14).


Há aproximidamente dois mil anos, em Maria, Virgem e Imaculada, Deus escolhe um lugar para habitar, nascer e ficar junto de nós. Ele se faz carne, sendo igual a nós em tudo, menos no pecado.


Hoje, no mais profundo de cada ser humano, num lugar imaculado, que o pecado desumanizante não é capaz de atingir, lá Deus habita e clama para nascer e fazer-se mais presente em n´´os através do seu amor.


Porém, quando olhamos à nossa volta, quando olhamos para o nosso mundo violento e contraditório, é difícil vivenciar a presença de Deus. Certamente não o deixaremos renascer, nem nos configuraremos à imagem de Cristo.


Por isso, nesse ano, eu não quero celebrar o Natal. Não quero tornar célebre este ato. Não quero mais celebrar o Natal dos shoppings, que se " preparam" e se enfeitam já no final de outubro. Não quero mais o Natal dos comércios, dos lucros exorbitantes, do corre-corre nas lojas, das dívidas e prestações. Não quero celebrações sem sentido e significado, não quero comemorações exteriores. Não quero que atos pontuais de "caridade" do Natal, como pequenos gestos assistencialismos e doações de presentes, sirvam para redimir a falta de comprometimento amplo, maduro e integral, não apenas assistencialismos. Não quero um Natal rápido e passageiro, que não transforme e seja apenas para cumprir a tradição. Não quero e nem desejo a ninguém esse " Natal", porque isso não é Natal.


Então, será que não faz mais sentido celebrar o Natal? Como devemos celebrá-los hoje? Eis que o Evangelho de São Lucas nos aponta a direção: " O anjo disse aos pastores: Não temais, eis que vos anuncio uma boa nova que será alegria para todo o povo: hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é Cristo Senhor". ( Lc 2,10). Depois que os anjos os deixaram e voltaram para o céu, falaram os pastores uns com os outros: " Vamos até Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou. Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura" ( Lc 2, 15-16).


Na clássica e conhecida cena do nascimento de Cristo encontramos a chave para que Ele renasça hoje e de fato, possamos celebrar o Natal.


Sim, Deus- Amor nasce na figura frágil de um bebê. Não através de uma teofania grandiosa ou de imposições tirânicas. É Deus que se faz pequeno, frágil e necessitando de nós para poder se alimentar e crescer. É o AMor que nasce num lugar frio, escuro e desaconchegante. Num lugar e numa situação onde ninguém jamais imaginou, ali a história da humanidade começava a mudar para sempre.


Assim acontece conosco. Só iremos encontrar Deus, deixando seu Amor crescer em nós e formos correndo ao Seu encontro dentro das grutas dos nossos corações. É na gruta da nossa ambigüidade, das nossas limitações e do nosso egoísmo, onde jamais imaginamos, que o Amor de Deus quer renascer para transformar de vez a nossa realidade.


É na manjedoura desconfortante da nossa falta de esperança, dos nossos erros, das nossas frustações, quando achamos que não tem mais jeito e jamais encontraremos o Salvador, lá brilha uma luz e encontramos Deus conosco nos confirmando que vale a pena seguir em frente e ter esperança.


Basta seguirmos os sinais que nos levam até Ele, com coragem e confiança. Sinais de uma palavra amiga, de um gesto de carinho, de uma boa conversa, de uma escuta, de um conselho... Sinais que a nossa consciência e o nosso coração nos dizem.


A reflexão me fez lembrar dos natais que passei quando era criança. Na véspera de Natal, dia 24 de dezembro, quando, à noite, ceiávamos em família, depois da " Missa do Galo ". Meu dia começava com um clima diferente. Tudo e todos ao redor pareciam estar em sintonia com esse clima diferente e inexplicável que estava acontecendo naquele dia. O mais interessante é que tal felicidade não era por causa dos presentes que ia ganhar ou por causa das comidas mais incrementadas daquela noite ou porque ia cantar pelo MEJ no coral da " Missa do Galo ", que era ensaiado pelo maestro André.


Talvez, por causa da falta de exigências e de cobranças desnecessárias, conseguia experimentar a certeza do nascimento de uma nova chance, de uma nova esperança e de um novo amor. Na simplicidade do meu pensamento de criança, eu via como se Deus tivesse dado de presente para cada um o Seu Amor para recomeçar. E por isto, todos estavam felizes e sem festa, mesmo com as confusões e com aquele corre-corre dos preparativos daquele dia. Talvez seja nessa simplicidade que todos nós poderemos celebrar o Natal em qualquer lugar e em qualquer situação. Nas comemorações mais luxuosas ou debaixo das pontes e das marquises da nossa cidade.


Por isso, somente se corrermos depressa, abertos a acolher e a zelar por esse Deus-Amor, que está escondido em nossas grutas, seremos capazes de vivenciar a Boa Nova, a Salvação! Seremos capazes de vivenciar o renascimento da fé, do amor e da esperança em nós. Seremos capazes de renascer. Então, ouviremos o coro dos anjos em festa cantando: Aleluia! Aleluia! E estaremos todos em festa porque o Natal enfim chegou!


autor: Leonardo Núñez

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